domingo, 19 de junho de 2011

Palavras dos contadores de histórias

Me interesso muito sobre a ancestralidade e a oralidade das histórias. É um assunto que tem me levado a buscar pesquisadores, escritores e contadores de historias. Em meio às leituras, novamente me deparei com esse lindo conto. Tão conciso quanto singelo, é um conto maravilhoso recolhido da tradição oral africana.


Conta-se na África Ocidental que não havia histórias. E por isso não havia também sabedoria. O mundo era muito triste. Por isso, o primeiro contador de histórias foi também um buscador de histórias, que saiu pelo mundo afora acompanhado de um pássaro-escrivão: o marabu. O marabu é o único pássaro que sabe qual das penas do seu traseiro deve ser arrancada para que, com ela se possa escrever – o que faz dele um pássaro especial.

Andaram pelo mato afora, pelas savanas e ao longo dos rios para escutar os ventos, as pedras, as águas, as árvores e os animais. E encontraram muitas pessoas até então desconhecidas, que iam lhe contando as suas histórias.
Munido da pena arrancada de seu traseiro e utilizando uma tinta feita de água, pó de carvão e goma arábica, o marabu-escrivão anotava cuidadosamente todas as histórias que escutava. E o buscador e contador de histórias caminhava e pensava “não vou conseguir me lembrar de todas essas histórias”. Mas o marabu continuava a ouvir e a escrever.

Quando, depois de muito tempo, voltaram para casa, o buscador de histórias obteve a solução para aquilo que o preocupava. Seguindo o conselho do marabu, encheu de água uma grande cabaça e nela mergulhou todas as histórias escritas.  Durante toda a noite, naquela cabaça – que na África e chama canari – as palavras escritas com tinta se dissolveram na água. No dia seguinte, o marabu mandou que o contador de histórias bebesse todo o conteúdo daquela canari.

Assim, todas as histórias bebidas tornaram-se histórias sabidas.

 E se você, por acaso, precisar beber uma história, escute o meu conselho: beba tudo. Não deixe nada no fundo do copo, porque isso poderia provocar um branco na sua memória.

E essa é a razão pela qual todos os contadores de histórias sempre foram também bons bebedores!!


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